Afinal, o que é felicidade?
- Sentir Arquitetura
- 30 de mar. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 29 de abr. de 2020
De acordo com Sonja Lyubomirsky, professora norte-americana no Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia, a felicidade pode ser definida como “a experiência de alegria, contentamento ou bem-estar positivo, combinada com a sensação de que a vida é boa, significativa e vale a pena.”

Mas o que faz uma vida boa? O que nos mantem saudáveis e felizes durante a vida? Esse foi o questionamento feito pela mais longa pesquisa sobre felicidade no mundo. O estudo feito em Harvard (Study of Adult Development – Robert Waldinger) acompanhou a vida de 724 homens durante 75 anos, desde sua adolescência até a velhice. E sabe qual foi o resultado?
Pasmem! Os resultados não foram sobre riqueza, ou fama ou trabalhar mais e mais... O resultado foi:
Bons relacionamentos nos mantem mais felizes e saudáveis. Somos seres sociais, por isso nosso foco deve estar nas pessoas e suas experiências e não somente no ambiente construído.
Esse assunto é tão importante que a felicidade passou a ser considerada uma medida do progresso nacional nos Estados Unidos. Solicitado pelas Nações Unidas (ONU), o World Happiness Reports é publicado anualmente desde 2012, examinando fatores que influenciam a felicidade social e pessoal. Em junho de 2016, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) comprometeu-se a "redefinir a narrativa de crescimento para colocar o bem-estar das pessoas no centro dos esforços dos governos". (World Happiness Report 2017, 3).
Então, sabendo que os relacionamentos são importantes para construir e manter a felicidade, o que precisamos saber agora é como a arquitetura pode contribuir criando ambientes que favoreçam o desenvolvimento de bons relacionamentos em casa, nos condomínios, nos prédios, nas cidades.
A Arquitetura da Felicidade, ciência do bem-estar a serviço da arquitetura, mostra que a partir de ferramentas como a neurociência, biofilia, geobiologia e antropologia, é possível propiciar espaços benéficos para a saúde, felicidade humana e florescimento pessoal.
Atualmente, uma grande variedade de estudos da neurociência e da psicologia ambiental têm registrado a qualidade restauradora do ambiente natural, observando impactos positivos na saúde mental geral e fortes correlações com a felicidade.

Uma pesquisa descrita no artigo Designing Happiness: Capitalizing on Nature’s Restorative Qualities, Rebecca Habtour, Madlen Simon, nos mostra insights e propõe estratégias a serem usadas na criação de ambientes construídos que promovam maior bem-estar.
Os autores identificaram sete fatores que podemos utilizar, aliados as estratégias de design, para criarmos ambientes felizes: biodiversidade, água, interação social na natureza, surpresa na natureza, luz solar como fonte de bem-estar, conexão da comunidade com a natureza e acesso universal à natureza.
1 – Biodiversidade - pessoas relataram sentir-se melhor e mais conectadas depois de passar um tempo em parques com muitos tipos diferentes de árvores e pássaros do que em parques com gramados e algumas árvores.
Ao projetarmos devemos misturar elementos, usar a variedade nas especificações, como vemos na natureza.
2 - Integrar a água – a água, juntamente com a vegetação, é identificada como elemento significativo para uma experiência restauradora. Ela é frequentemente mencionada em pesquisas ao pedir às pessoas que descrevam um lugar feliz.
Ao integrar a água, a natureza e os espaços sociais, incluindo piscinas acessíveis, jardins e espaços públicos trazemos oportunidades restaurativas e interativas.
3 - Interação social na natureza - atividades como, relaxar, ler, brincar, atividades físicas, comer e beber na natureza são altamente importantes para o bem-estar. Interações amigáveis com as pessoas da vizinhança podem dar um impulso positivo à ocitocina sem os estressores adicionados que vêm com relacionamentos sérios.
Projetar espaços que promovam a interação social, integrar a natureza nos caminhos, nos locais de trabalho e de recreação permite que as pessoas se sintam mais felizes.
4 - Surpresas - os centros de prazer do cérebro acendem quando surpreendidos com algo agradável, mais do que quando se espera algo agradável. Podemos utilizar as mudanças inerentes à natureza para criar experiências interativas surpreendentes com as pessoas.
Por que não em meio a um parque colocarmos esculturas de animais? Ou projetar uma fonte? Algo inesperado que surpreenda as pessoas.
5 - Luz solar como fonte de bem-estar - Os ciclos de luz natural suportam ritmos circadianos internos, aumentam os níveis de serotonina e são uma necessidade para uma boa saúde e felicidade. Ficar com pouca luz do dia por muito tempo pode levar à depressão, distúrbios do sono e outras doenças. Um dos aspectos psicológicos importantes da luz do dia é atender à necessidade de contato com o ambiente externo.
Uma parede ensolarada para esquentar no inverno, um feixe de luz emoldurado que revela as sombras do tempo deslizando para a frente ou uma surpresa da refração mágica, espalhando as cores de maneiras deslumbrantes. Utilizar vidro colorido e trepadeiras externas como mecanismos de sombreamento que respondem a mudanças na estação e hora do dia, são exemplos de como podemos utilizar a luz solar.
6 – Conexão da comunidade com a natureza - Trazer felicidade pela natureza se sobrepõe de maneira surpreendente a outros objetivos, e uma sinergia de propósitos pode multiplicar o impacto positivo do trabalho de todos.
Criar jardins para embelezar uma rua urbana sem graça. Projetar uma rede de ciclovias verdes para incentivar caminhadas e ciclismo, fornecendo rotas seguras e agradáveis, oferecendo às pessoas várias oportunidades para interações diárias intencionais ou incidentais com a natureza.
7 – Acesso universal a natureza - Garantir o acesso a todas as pessoas. Pode-se criar as experiências integradas da natureza mais animadoras do mundo, mas, se forem acessíveis apenas regularmente aos privilegiados, o projeto de felicidade fracassará. O desafio do projeto é encontrar maneiras de tecer os impactos ambientais positivos todos os dias, para serem experimentados com frequência e nas proximidades por todos.
As estratégias de projeto mostradas aqui vêm de uma série de pesquisas sobre fatores para a felicidade humana e têm aplicação universal ao trabalho de arquitetos, planejadores e urbanistas. Quando incorporamos aspectos da natureza ao ambiente humano, moldamos espaços com potencial para aumentar a felicidade dos habitantes.
Vou terminar com uma frase de Winston Churchill que mostra isso claramente: Nós moldamos os edifícios e depois os edifícios nos moldam.
Fontes
Designing Happiness: Capitalizing on Nature’s Restorative Qualities, Rebecca Habtour, Madlen Simon
Global Wellness Institute – 2018 Research Report .
A Arquitetura da felicidade – Alain de Botton – Ed Rocco
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