É TEMPO DE RESSIGNIFICAR O que a crise tem a nos ensinar?
- Sentir Arquitetura
- 29 de abr. de 2020
- 3 min de leitura
A experiência que estamos vivenciando neste momento é obviamente algo que nunca vivenciamos antes. Nós brasileiros jamais passamos por momentos sequer parecidos. Nunca passamos por Tsunamis, furações, grandes guerras, terremotos e nem temos vulcões. Estamos habituados com muito contato físico, agitação e liberdade. Dar beijos, abraços, ir à praia, ao barzinho ou ao cinema, promover grandes ou pequenos eventos para reunir quem a gente gosta para comemorar conquistas, datas especiais ou simplesmente celebrar a amizade, pelo menos para nós brasileiros sempre foi algo que colaborou para dar sentido a nossas vidas.

Porém, subitamente fomos surpreendidos por algo que nos submeteu a uma série de perdas. Perda da forma de trabalhar e até mesmo do trabalho, da forma de se relacionar, de demonstrar afeto, perda financeira, perda da cultura, do convívio social, da liberdade e tantas outras que cada um vai vivenciar conforme a sua subjetividade. Sob a ameaça de um vírus que pode ser letal, tudo isso nos faz experimentar sentimentos como medo, a ansiedade, angústia, tristeza e insegurança. Pois geralmente as perdas geram luto e neste momento passamos certamente por um processo de luto. A negação, a raiva e a aceitação são algumas de suas importantes fases. Isso explica por exemplo, porque percebemos tantas pessoas hesitando tanto em seguir as recomendações preconizadas e outros comportamentos que exteriorizam a fase de negação. Pois não é nem um pouco fácil ter que abandonar velhos hábitos, lidar com um declínio financeiro e a possibilidade da morte. Estamos diante de um grande problema, de uma grande tragédia ou de um grande e complexo desafio?
Desta forma, se refletirmos sobre o curso de nossas vidas e também a história da humanidade, podemos constatar que períodos de crise acarretam em perdas significativas, mas também nos trazem muita aprendizagem e amadurecimento. Portanto, se conseguirmos ajustar o nosso olhar para um novo ângulo, podemos começar a perceber esse momento como uma oportunidade para aprendermos algo. E então, o que podemos aprender com períodos de crise?
A pandemia nos deu o precioso tempo que tanto precisávamos para descansar, para brincar mais com os filhos, ler um livro, assistir a um filme, dormir mais um pouco, cuidar de si mesmo... mas também nos leva a pensar sobre a qualidade das nossas relações, sobre as escolhas que temos feito, e sobre que tipo de uso estivemos fazendo com nosso tempo e nosso dinheiro. Será que precisávamos mesmo correr tanto? Será que precisávamos comprar tantas coisas? Todas aquelas prioridades que tínhamos antes, eram mesmo prioridades? O que de fato é importante para sua vida? O contato físico, afetivo, presencial, nunca foi tão valorizado, mas tenho a impressão de que já estávamos aos poucos migrando para este contato virtual sem nos darmos conta (como já dizia aquele velho ditado: “agente só dá valor quando perde”). E por falar em perdas, talvez jamais tenhamos experimentado a sensação de estar em contato tão próximo com a ideia da finitude da vida, o que nos arremete outra aprendizagem: que valor temos dado a nossas vidas? Como temos cuidado do nosso corpo e da nossa mente? Se hoje fosse seu último dia, sua vida teria valido a pena? Ou amargaria a culpa de ter desperdiçado todas a oportunidades de ir atrás do que realmente teria feito sentido para você?
Se antes achávamos que precisávamos de tantas coisas, hoje estamos aprendendo a viver com o essencial. Estamos aprendendo a exercitar a paciência, a lidar com o medo, a aceitar a morte, a valorizar tudo o que temos agora e viver um dia de cada vez. Períodos críticos nos levam a entrar em contato com tudo aquilo que vamos evitando ao longo da vida. É um convite obrigatório a olhar para dentro si. É tempo de ressignificar, dar um novo sentido à vida. De aprender que sempre há outras possibilidades e que sempre se pode fazer novas escolhas.
E você? O que tem aprendido nesta quarentena?
NATÁLIA GONÇALVES
CRP 5/54355
• Psicóloga
• Palestrante
• Coautora do livro: AUTOAMOR, um caminho para a regulação emocional e autoestima feminina. Editora conquista - lançado em 2019
• Coautora do livro: psicologia e psicoterapia, DESMISTIFICANDO IDEIAS E QUEBRANDO PRECONCEITOS editora conquista – previsão de lançamento: maio 2020
• Coordenadora editorial do livro: RESSIGNIFICAR, desafios e possibilidades para a construção de uma nova história. Editora A. G. Publicações – previsão de lançamento: julho 2020
• Pós-graduanda em neuropsicologia
• Área de atuação: atendimento clínico a adultos, com ênfase em autoestima e desenvolvimento feminino
• Atendimento: edifico Plaza Office, Campo Grande
• Psicóloga social na instituição de acolhimento “Ass. Obra de Ass. a Infância de Bangu”
CONTATOS:
• Instagram: @psi.natalia.goncalves
• E-mail: nataliagoncalves.psi@gmail.com
• (21) 98282-7724 (WhatsApp)
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Muito interessante o artigo, traz informações que nos ajudam a entender o que está acontecendo com as nossas emoções e faz um maravilhoso convite à ressignificação. Destaque para: luto como perda, fase de negação, ideia da finitude da vida e reflexões que nos ajudam a dar um novo sentido à vida.
Que texto gostoso de se ler, tão acolhedor neste momento. Me vi em cada palavra e senti todo o contexto de ressignificar a vida, os valores, o futuro. Obrigada por trazer acolhimento com suas palavras!
Seu texto resume exatamente o turbilhão de sentimentos, situações e reinvenções que passamos nestes últimos 2 meses!! Obrigada pela oportunidade desta leitura!! Sucesso pra você!!
Precisamos mesmo rever nossas prioridades. Estamos sempre em busca do inatingível, me parece.
Maravilhoso texto para reflexão!
Eu percebi, durante esse período, que comprava demais, achava que precisava de tanto. Por outro lado, não pensamos tanto em consumir por não estarmos com a vida social normal.
A maior percepção foi mesmo sobre a solidariedade humana, que já sabia, todos sabiam, mas ficou mais evidente.
Continue escrevendo essas preciosidades, nos faz bem, sabemos que sabemos, mas nos ajuda a expressar. Beijos
Lindo texto, nesse momento que está sendo tão angustiante para o mundo e principalmente para nós brasileiros que como diz o texto temos o hábito de estarmos sempre próximos, sentindo o calor humano e festejando, palavras assim acalma um pouco nossos corações,e nos deixa ótimos questionamentos. Adorei, parabéns Natália Gonçalves!!!